“Há escolas que continuam a formar os alunos com a mesma postura da banda do Titanic. O navio afunda-se e continuamos a tocar como se tudo estivesse normal. Antigamente, o trabalho dos professores vinha para a sala de aula. O projeto, o problema era matéria. Houve tempo de uma relação muito direta entre a prática profissional e a discussão da arquitetura. Com questões como a especialização, as hierarquias, os mestrados e doutoramentos, chegou-se a pensar que a produção de artigos era mais importante que a produção de arquitetura, de saber fazer, de projeto e conhecimento da própria realidade: “Falar sobre” em vez de “falar de”… E isso é um problema que nos pode deitar tudo a perder (…)
Isto não é só pensar que o arquiteto é o dono das ideias… Toda a gente tem ideias. Que só o arquiteto sabe desenhar… Toda a gente sabe desenhar. O arquiteto tem de ser outra figura. A escola tem de perceber os sinais de mudança. Isto obriga a reformatar a ideia de que os professores de arquitetura só têm de produzir livros, escrever textos e andar por aí a conferenciar, sem fazerem arquitetura. As nossas universidades, em geral, assumiram um problema, que não fazia parte da sua prática (…)
É preciso ter noção do que se está a ensinar. Podemos ensinar só o método de trabalho, a abordagem, a teoria, a história que é fundamental, mas é também essencial conhecermos os meios e as técnicas de produção, as estratégias, saber que há um processo para fazer o projeto de arquitetura… Isso é algo que tendemos as esquecer (…)
A escola de arquitetura pode ser o início dessa visão global, da unidade cultural estratégica que a arquitetura portuguesa precisa para se desenvolver e crescer. Temos tantos arquitetos de grande qualidade mas não temos capacidade de nos impormos nem coletivamente nem individualmente, nem dentro nem fora. Andamos a cometer alguns erros (…)”
Nuno Lacerda Lopes, Archinews ed#29